terça-feira, 2 de junho de 2015

Nunca te escrevi #01


Nunca te escrevi.

De todos os meus amores, você é o que mais me intimida.

Faz tempo que vi seus quadros pela primeira vez. Mergulhei nas suas sombras, nos seus olhos, no seu mundo. Fui me afogando em tons de azul cada vez mais escuros (50 tons de azul. Risos). Fui morrendo para nascer em uma realidade totalmente paralela - aquela em que nos conhecíamos, nos frequentávamos, nos tocávamos e o meu amor surrealista era nosso amor realista.

Eu não morri, não renasci, não te conheci. Até o dia em que te conheci sim. E me derreti quase literalmente. Impressionismo literal bagunçando meu cubismo. Quando você falou comigo, eu engasguei. Fiquei atônito e ainda não me recuperei. Até me escondi quando ouvi sua voz na minha janela naquele sábado.

Gosto do seu cheiro, das suas tatuagens que eu nunca reparei individualmente, do seu sorriso, da sua expressão perdida, da sua atmosfera. Mas não sei quem você é, em que você pensa, de quem você gosta. Não sei se teríamos assunto na fila do McDonalds se você estivesse sozinho, ou na boate se eu estivesse sozinho, ou naquele café famoso se fôssemos juntos. Não sei se ficaríamos desconfortáveis no silêncio ou se nossos olhos falariam por nós quando você me fizesse provar tereré.

Nunca te escrevi porque minha conexão passional com sua imagem folclórica não parecia relação. Não parecia suficiente. Se eu soubesse pintar retratos pra contar nossa história - a que criei - em imagens, seria um auê.

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