segunda-feira, 21 de junho de 2010

Do caos, nascem as estrelas.



Não era muito alta, nem muito bonita. Passava despercebida mesmo a olhos atentos. Corria, apressada, até na desorientação do ócio. Produzia-se como podia, com uma roupa daqui e um acessório dali, mas era discreta por natureza e não sabia ser inesquecível.

Ana, a avó sempre dissera, era nome de mulher forte. Nos tempos da senhora, ela pensava, Pois agora Ana é nome de gente sem graça. Ana. Ana. Ana. Repetia para si mesma, mentalizando a imagem irremediável que assaltava-lhe qualquer princípio de ego quando olhava-se - no espelho.

Sentia-se um retrato avivado da desgraça que fora o casamento dos pais e dos avós paternos. Supunha para si a mesma miséria existencial que a vinha seguindo por gerações. Superava-se sempre intelectualmente, mas isso só fazia-a sentir-se menos útil e mais excluída.

Não saía e não tinha mais do que meia dúzia de amigos. Não tinha propósitos reais por trás da camuflagem de responsabilidade precoce que ostentava. Abominava todas as práticas adotadas para interagir socialmente, como a "libertação" de sentimentos e vontades através do consumo de drogas e confraternizações regradas a palavras de baixíssimo calão e músicas audíveis a anos-luz de distância.

Não era antissocial, jamais. O social que sempre fora anti-ela. Excluída, apontada, mal-quista e desprezada... ainda assim, vivia. E sorria, como se nada lhe pudesse nublar.



A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida. Charles Chaplin

4 comentários:

maria elis disse...

e como não dizer que Ana não é nome de gente forte?!

beijas :*

Jaciara Macedo disse...

Essa é a verdadeira felicidade: manter-se alegre quando tudo à sua volta torce para que não sejas. Bonito texto, de verdade.

beijos (:

Cleiton Ribeiro disse...

adorei o texto como sempre!
e vou roubar a frase...

Bernardino disse...

Eu amo esse texto. Que sensibilidade, Fernando!