domingo, 7 de fevereiro de 2010

Acordar (Quando Nada Mais Precisa Fazer Sentido)



“os anos se passaram enquanto eu dormia (...) eu não vou me adaptar”

Eu não sei se é bem isso que acontece, mas às vezes a gente se perde. Não, não falo de eu e você; falo de cada um genericamente. Não é do perder-se do outro, é do perder-se a si, e somente a si.
Essa explicação se faz desnecessária na medida em que admitimos que ninguém tem nada a perder realmente além de si. Ninguém, nem as coisas, os bens capitalistas, se deixa conquistar inteiramente. Inferir-se pode que não há, portanto, como possuí-las de todo e, com efeito, só se perde o que se tem (Clarice que me desculpe).
Será mesmo?
Bem... vamos relativizar: às vezes achamos que temos algo e, depois que perdemos, descobrimos que nunca tivemos. Se nunca tivemos, não perdemos, certo? Por que então são essas as coisas que nos fazem mais falta?
Se Freud não explicou, eu muito menos. Sob minha sombria forma de ver, considerando meu parco conhecimento, é como chocolate. Você não sentiria tanta vontade de comer mais chocolate se não tivesse experimentado. Você nunca o teve, só contemplou a sensação de posse – veja bem, a sensação! - por um vago espaço de tempo, até que, supostamente, o perdeu. Paralelamente, você se cansa quando come muito do mesmo chocolate, a não ser que seja aquele o seu preferido, o que realmente agrada o seu paladar na medida certa, o que se equilibra perfeitamente com suas informações gustativas: aquele que você vive procurando, sem sucesso.
Excetuo-me das metáforas por um instante. Uma pessoa deseja ter a outra e acha que tem, até a hora em que essa outra se vai. A primeira pode morrer de saudades, pois achou que tivesse algo que, de repente, não tinha mais. E, aí, entra a parte de só perder o que se tem. Não ter mais algo que você nunca teve, senão a ilusão, é sair do zero e voltar a ele. Isso prova, por a mais b, que nós nos deixamos voar demais, pra cair no mesmo buraco escuro e frio. E nos esquecemos de nós. Entendam a epígrafe: é difícil entender-se e se adaptar à própria realidade quando você retirou-se dela, quando você foi viver a realidade do outro.
Talvez por isso não tenhamos asas; nossos neurônios já decolam assim. Sem perdão do exagero, amar é muito difícil.
Se “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, alguém explica por que há tanta gente que gosta de cativar corações alheios desprevinidos sem deixar-se cativar de volta?
Fraquezas, medos, receios... O problema de nós, humanos, é pensar.

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