Estrela Cadente

_Brilha, brilha, estrelinha; brilha, brilha lá no céu.
_Que é isso, Elisa?
_Estou cantando, mamãe. Olha que linda aquela estrela lá... é a maior de todas!
_Aquilo não é estrela, querida. Aquela bola maior é a lua; a lua cheia. Se você prestar atenção, vai ver o...
_coelhinho?!
_Não. Vai ver São Jorge matando o dragão naquela sombra lá... Tá vendo?
_Nossa, mamãe... o coelhinho é bem mais bonito! - exclamou a menina, com os cotovelos na janela do sétimo andar, o queixo apoiado sobre as mãos, observando a noite. - Por que é que temos que enxergar a parte ruim, o dragão morrendo?
_Porque sim, querida. Agora vamos dormir que já é tarde.
_Tudo bem... já vou.
_Durma bem! - a mãe beijou-lhe a testa e saiu do quarto.

Era tal a hipnose da menina pela lua, o vislumbre, o desejo, a curiosidade, que ela deixou escapar:

_Eu queria ser uma estrela, uma estrela bem brilhante no céu, perto da lua!

A lua baixou, do topo da noite ao profundo horizonte, como fazem as estrelas que realizam desejos. E a menina, que acreditava ser a lua a maior de todas as estrelas, amanheceu rodeada de espectadores, totalmente descomposta, inscrita na poça de sangue no meio da calçada. Enquanto chegavam os médicos e as autoridades, o sol foi ocupando seu espaço, reinando absoluto no azul daquele dia.


Muitas vezes, queremos ser o que já somos! (Fala do Mágico em O Mágico de Oz)