Com passos de formiga e sem vontade...

Fui ao shopping - há alguns meses - e vi um brinquedo novo para as crianças: uma esfera de plástico, oca e transparente, onde meninos e meninas entravam. Essas esferas boiavam numa piscina com vinte centímetros de água e a intenção era, simplesmente, sair do lugar; deslocar a sua bola.
Um show de horrores, eu diria. Vi crianças caindo dentro de suas esferas e levantando sem nenhum ânimo para voltar à difícil tarefa. Os pais, entusiasmadíssimos, fotografavam cada movimento, a despeito do esforço inútil dos filhos. Comentavam e apontavam coisas como "aquele é meu filho!" "vejam aquela menina como cai...". E ia assim, até o homem com o cronômetro chamar as crianças que estavam na piscina para saíres e darem lugar às outras, que faziam fila.
Os pobres mal conseguiam se equilibrar no mesmo lugar, mas o homem não cessava de apressá-los; era como rir de hamsters sendo adestrados. E eu ria. Até que ele resolveu enfiar os pés descalços na água e resgatar as criaturas naufragantes. Saiu triunfante carregando quatro esferas de plásico e quatro estômagos embrulhados. Entraram quatro novas crianças. E a cena se repetiu muito mais de uma única vez.
Não voltei ao shopping ainda, portanto não posso afirmar nada, mas eu não pude evitar sequer por um momento, depois que saí, me perguntar qual seria o próximo brinquedo a ser colocado lá. Talvez uma rodinha, para as crianças correrem; ou um osso gigante, para ver qual morderia mais...
Depois de violência, corrupção e tantos outros absurdos que comete-se por aí, o que eu menos esperaria era que estivessem ensinando truques para as crianças. Mas é que elas aprendem com mais facilidade, não é mesmo?! E devemos realmente ensinar as crianças a se portarem como animais, afinal, esses que se julgam tão racionais são os que menos prezam pela humanidade, os que menos demonstram ter evoluído.
É assim que caminha a humanidade: um pouco pra trás e menos ainda pra frente.

E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vidas dos insetos... (Mario Quintana)