quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Fulgaz



(...)each day's a gift and not a given right/ leave no stone unturned. (Nickelback)

Eu me lembro vagamente que, quando eu era menor, costumava dar vassouradas na barata dela. Eu me lembro também que eu comprava tênis de velcro, chocolates nas lojas americanas, e usava havaianas de duas cores. Lembro-me que meus pais já foram casados, que tive trocentos cachorros, uma gata e um óculos do Chaves - aquele que o grapette passava em volta dos seus olhos antes de chegar à boca. Eu me lembro que tomava grapette, mais até que coca-cola. Eu me lembro de algumas coisas que, em suma, não têm a menor importância agora; mas tiveram um dia. E isso, pra mim, só pode denotar a efemeridade delas... e da vida. Eu já fui inocente. E isso basta para mostrar que tudo muda... e muito!
Nunca parei para pensar nisso, mas, se hoje fosse meu último dia, só o que eu não gostaria era de me arrepender de coisas que deixei de fazer, por mais batido que seja o clichê. E, infelizmente, é só em que consigo pensar: coisas que deixei de fazer. Já há muito que deixei até de brincar de médico; vou me desligando propositalmente de tudo isso que o mundo pode me oferecer: disfarces para tudo que há de pior; sorrisos de fachada; e ataques de sombrinhas nas ruas. O remorso senta e pede um terceiro copo. Bebo, acompanhado dele e da solidão. Mas esta quer ir embora, embora eu não deixe. Se hoje fosse meu último dia, eu já teria tanto de que me arrepender, qual a diferença de acrescentar mais uma à lista? Deixa eu brincar com o meu nariz, me pintar com pó de giz, ensinando todo o mundo a ser feliz enquanto o meu carnaval avista - de perto - o fim.

Um comentário:

Leo Wizy disse...

vc parece Alvarez de Azevedo.