segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

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Imagem: adaptada do lettering do @kacaio


Eu costumava me sentir em casa com você.

Quando tudo parecia errado, eu corria pra você.

Você era meu espelho, meu lugar.

Agora é esse desconforto, essa obrigação. Eu não sei pra onde a gente deve ir, nem se a gente deve ir pra algum lugar. Você sabe?
É claro que não. Eu costumava despejar o bicho alfabeto em você quando tudo parecia errado. Você só aceitou, nunca deu resposta. E eu não quero ser injusto, mas tudo passa.

Palavras o vento leve.
Fica o que não se escreve.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Epifania #02






I used to hide
Now it's gon’ be hard
To stem this tide


Meu corpo não é uma prisão. Minha mente é.
Minhas ideias são barras maciças de metal; minha ignorância é um muro de concreto; meus medos são algemas. Eu me detenho porque quero.
Há uma satisfação estranha na autopiedade. É fácil viver preso sem se sentir culpado. É fácil acreditar que as visitas com hora marcada acreditam nessa inocência também. É fácil mandar cartas pra fora sem precisar ligar pras consequências. É fácil fugir da realidade pra se sentir em segurança.
É bom fugir da realidade. É prazeroso. É realizador.
Mas é passageiro.
E quando eu vi o tempo que eu perdi, vi que a realidade é passageira também.
A vida é um imprevisto com vários imprevistozinhos, todos correndo como crianças brincando de pique lá do lado de fora do meu muro de concreto. O tempo de construir é tão pouco e não dá pra perder. No final, não dá pra dizer que não deu, que não pode, que não foi capaz. No final, a plateia é grande demais pra acreditar nas mentiras que a gente conta pra si mesmo.

Eu não era assim.

Eu não quero mais ser assim.
Eu tô batendo no muro com as barras de metal e não vou parar enquanto não vir ele no chão. Tô destruindo minha ignorância com minhas ideias. E vou destruir minhas ideias com a realidade. E vou destruir meus medos com uma satisfação que não é estranha, porque não vem da autopiedade, mas do amor próprio. E vou construir ideias que sejam asas. E coragem pra voar.
Eu me escondia. Agora vai ser difícil me parar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A Culpa #01




A culpa é uma aranha traiçoeira.
Rasteja, arranha e sapateia.
Sobe devagar na sua teia.
Enrola, desenrola e nos rodeia.

Suas pernas são todas ardilosas.
Quatro pares de agulhas venenosas.
Apontam certeiras, rancorosas.
E criam feridas dolorosas.

A culpa, esse maldito sentimento.
É rico e natural quando é de dentro.
Mas penoso se, de fora do elemento.
A aranha odiosa vem correndo.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Pontual





Nunca te escrevi.

De todos os meus amores, você é o que mais me alitera.

Na repetição viciosa, por força de expressão.
Na intuição dessa história, desse nosso projeto.
Na força de suas palavras, na letargia da relação.
Do prólogo indefinido até o epílogo incerto.

As palavras escorrem pelos seus dedos e vêm pros meus.
As palavras escorrem pelos meus dedos e vão pros seus.
As palavras sucumbem, as palavras fogem, as palavras
Rezam, as palavras choram, as palavras calam.

Eu te amo daqui até a Bósnia e Herzegovina.
Eu te amo com esse amor tronxo e antigo.
Esse amor amigo.
Esse amor irmão.

Você é a pessoa mais inteligente
que eu vou conhecer na vida.
Sem hipérbole.
Pra sempre, melhor amiga.